Uma árvore à Beira do Caminho
Perto de Espinho havia uma árvore
havia uma árvore à beira do caminho
E havia um buraco naquela árvore
perto de Espinho.
(E o povo sabia que havia um buraco
naquela árvore à beira do caminho.)
Mas quando vieram os embuçados
à procura dum médico em terras de Espinho
o povo calou-se não disse nada.
(E o povo sabia que havia um médico
naquela árvore à beira do caminho.)
Esta é uma história que todos sabem
em terras de Espinho.
Esta é história duma árvore
à beira do caminho
Era noite cerrada noite negra
era noite de morte no caminho.
E de repente chegaram os embuçados:
procuravam um médico em terras de Espinho.
Era noite sem lua noite de emboscada
noite de um homem não andar sozinho.
Por isso o povo não disse nada:
era noite de embuçados no caminho.
Disseram ao povo que havia um ferido.
Mostraram as mãos: seria sangue? seria vinho?
E ninguém foi chamar o médico escondido
naquela árvore à beira do caminho.
Era noite sem lua noite de sangue
era noite de esperas no caminho
Embuçados chegaram. Embuçados partiram
Procuram um médico em terras de Espinho
Já corre um mensageiro para aquela árvore
à beira do caminho
Há embuçados. falaram dum ferido
Mas o sangue que vimos era vinho
Já o médico sai do seu buraco
naquela árvore à beira do caminho.
(Ai a noite sem lua
aí o sangue tem a cor do vinho)
Catorze balas o esperavam
catorze balas o mataram nessa manhã em Espinho
as mãos do povo vinham florir
aquela árvore à beira do caminho.
Mas todos os anos na mesma manhã
em que o sangue corre nessa aldeia de Espinho
as mãos do povo vinham florir
aquela árvore à beira do caminho.
Mas no dia seguinte no mesmo dia
em que havia uma árvore (perto de Espinho)
as mãos do povo vieram plantar
outra árvore à beira do caminho.
De quando em quando voltam os embuçados
e cortam a árvore do povo de Espinho.
Mas há sempre alguém para plantar
outra árvore à beira do caminho.
(dedicado ao Dr. Prata - Antonio Carlos Ferreira Soares
assassinado pela PIDE em Julho de1942)
assassinado pela PIDE em Julho de1942)