quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Espinho


aqui
eu ganho o ritmo da espuma
das asas da lonjura e destas dunas
que viajaram no vento

aqui
te beijo apenas no que escrevo
esta imagem de ti bem à medida do
incomensurável

aqui
estou mais só e estou mais perto
sei que não tens contornos e és da cor
das tardes insubmissas

aqui
saio de mim e sou maior
pois descubro que falas infinito
e sabes a dilúvio

é aqui
que tudo és tu

(Anthero Monteiro, MARíntimo)

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Balada do Mar de Espinho

Eram só três pescadores
Ou seriam trinta e três.
Quem vai agora contá-los
Um a um de cada vez?
Eram poucos e sozinhos
Mas foram eles os padrinhos
Desta cidade afamada
À beira do nosso mar.

Deram-lhe o nome de Espinho,
Outro também lhe servira
Pelo traçado das ruas
Onde o vento corre livre
Sem medo de tropeçar.

Com muito engenho e sucesso
De pequenina cresceu
Até à saturação.
Tem de tudo que é progresso
Menos ódio e poluição.

Entre o mar e o casario
As palmeiras logo acenam
O seu fraterno sinal,
A quem de longe ou de perto
Volta sempre com prazer
Em cada quadra estival.

Cidade de oiro e lazer,
Ó jóia da natureza,
A tua maior riqueza
Não vem dos jogos de azar,
Vem da força do trabalho
E dos encantos do mar!

Edgar Carneiro, Mar Amar - Poemas do Mar de Espinho,1992

Nasceu em Chaves em 1913, mas, tendo ido leccionar para a zona de Espinho, ficou a viver nesta cidade desde 1967. É pai do poeta, já falecido, Eduardo Guerra Carneiro. Com 96 anos, planeia ainda publicar o seu 12.º livro de poesia, pois continua a escrever assiduamente. O seu nome consta do Dicionário Cronológico de Autores Portugueses (Publicações Europa-América – Vol. IV).
O Município de Espinho atribui-lhe, no dia da cidade (16/6), uma segunda medalha de mérito. Fez parte desde a criação, há quase 12 anos, da Onda Poética, coordenada por Anthero Monteiro.

domingo, 30 de outubro de 2011

Viva D'Espinho


Já deixamos a sardinha
Aos freguezinhos entregue,
Pois quando ela é assim fresquinha,
Vale mais do que galinha,
Não há manjar que lhe chegue

Viva d´Espinho,
Não tem rival,
Com pão e vinho
Põe a caminho
Qualquer mortal.

Córadas, frescas, redondas,
C´oas ancas a dar a dar
São bem a imagem das ondas
São bem a imagem do mar.

Basta o pregão afamado
Oh! Fresca d´Espinho viva
Para d´um e d´outro lado
Vir o povo entusiasmado
Com a “massa” respectiva.

Viva d´Espinho
Não tem rival,
Com pão e vinho
Põe a caminho
Qualquer mortal.



Canções da Beira-Mar – Fausto Neves
letra - Carlos de Moraes

(pregao da Vendedeiras de Sardinha)

sábado, 17 de setembro de 2011

Palheiros de Espinho

...
Onde morava a vareira
De "ancas a dar, a dar".
Num canto a dorna, a masseira,
O forno, o lume, o lar!

Cama em chão de areia
E água benta, o terço
Rezado à luz da candeia,
"Menino-Jesus" no berço!

Só me pesa não poder
Recuar e me ser dado
Poder voltar ao passado
Para com Deus eu viver

Na pureza e no carinho
Das nossas gentes de outrora,
Longe dos cheiros de agora,
Num palheirinho de Espinho

(in Minha Terra e Terra dos Meus Avós - Fernanda Miguel)

domingo, 21 de agosto de 2011

À noite, o mar

Só esta aragem pura;
Só este aroma,
Olor da maresia;
Só este som do mar
Em maré-cheia;
Só esse braço quente
Na cintura
E o gosto de sentir,
Ainda, à luz do dia,
O quebranto da onda
Nas areias.

Edgar Carneiro, Mar Amar - Poemas do Mar de Espinho

domingo, 31 de julho de 2011

Saudades

Palavras fora da boca,
São pedras fora da mão.
Abençoadas pedradas
Que as tuas falas me dão!

As tuas palavras
São tão maviosas,
Que sabem a frutos
E cheiram a rosas!

Eu não compreendo a saudade
Que eternamente em mim vive...
Saudades que tem saudade
De saudades que eu já tive!...

Saudades das ondas
Que ao longe morreram...
Saudades dos beijos
Que nunca se deram.

Musica - Fausto Neves
Poesia - Carlos de Moraes
Cançoes da Beira-Mar 1931

(dedicado à sua esposa)

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Vareira (Cançao de Espinho)


Minha linda vareirinha, tão vaidosa...
Quem te fez assim tão linda, minha rosa?!
Ai certamente o mar dolente sobre a areia,
Foi quem te deu toda essa graça de sereia!

Vareira...
Santa da minha fé!
- não dês ao lindo pé
...dessa maneira!

Tu dás ao pe desse jeito, para que o vejam...
E olha as ondas gostam tanto que até o beijam!
Ai certamente o mar dolente ó vareirinha,
Foi quem te deu toda essa graça de andorinha!

Vareira...
Santa da minha fé!
- não dês ao lindo pé
...dessa maneira!

Se não fora o teu encanto permanente,
Nem o mar valia tanto, certamente!
Vendo o teu corpo airoso e lindo, as próprias ondas
Sao mais coquettes, mais perfeitas, mais redondas!...

Vareira...
Santa da minha fé!
- não dês ao lindo pé
...dessa maneira!


musica - Fausto Neves
letra - Carlos de Moraes
(dedicado a Maria Fernanda Pinheiro de Morais)

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Amar Espinho


Espinho te queremos tanto
Tu sabes dar amizade
Tu és terra de encanto
De amor e de saudade

Espinho és uma flor
Nascida à beira-mar
Desabrochando, dá amor
Que as pétalas nos vêm dar.

Gosto de ti, é verdade
Porque havia de negar
A minha grande vontade
Era um dia te beijar.

Tanto amor em ti cintila
Espinho linda cidade
Foste lugar, foste vila
E chegaste a cidade.

Ai como é bom amar
Também é bom ser amado
Senão é como nadar
Em cima do mar coalhado

Às vezes fico a pensar
Como há tanta crueldade
Que queria poder acabar
Para nascer a amizade.

(do poeta espinhense José Hermínio)

quarta-feira, 25 de maio de 2011

rosa Vareira


A lavar e a estender
Deitei a roupa a corar,
Meu amor é pescador,
Pesca peixinhos no mar.

Enche o mar, vasa a maré,
Fica a praia no deserto;
Vai-se um amor, fica outro,
Não ha ditado mais certo.

Vós chamais-me vareirinha,
Eu gosto de vareirar,
Eu sou vareira de Espinho,
Vou à sardinha ao mar.

Já vi mar e já vi terras,
Tambem já fui marinheiro,
Ja tive amores de graça,
Agora nem por dinheiro.

Se o mar tivesse janelas,
Como tem embarcações,
Nem Lisboa lhe ganhava
Em certas ocasiões.